A história registra inúmeros casos de loucura adquirida, ou até mesmo pré-existente em vários monarcas e rainhas. O caso mais próximo do Brasil foi de Dona Maria l, mãe do rei Dom João Vl, de Portugal, configurando verdadeira inapetência política provocada pela perda do marido e seu fanatismo religioso, piorada com a ascensão de Napoleão Bonaparte, com as dificuldades de cura da rainha portuguesa, seu filho, Dom João Vl assumiu o trono de Portugal na condição de príncipe-regente.
Na tentativa de conter intenções de autonomistas da cidade de Novgorod, Ivan foi responsável por grande chacina contra seus habitantes, ordenando que várias pessoas revoltosas fossem jogadas em rio congelado, ou fossem sacrificados em rituais satânicos. Tinha o hábito estranho de bater a própria cabeça contra a parede e rezar pelas almas daqueles que eram vítimas de sua perseguição. Reza a história que esse comportamento esdrúxulo resultava do avançado quadro de sífilis que o atacava e ou o costume de ingerir mercúrio.
Já no final da Idade Média, o rei da França Carlos Vl entrou em surto passando a ouvir barulho de lanças em sua direção quando ele começou a se achar perseguido por seus inimigos, chegando, inclusive, a matar até mesmo soldados da sua segurança tamanha era o pavor que ele sentia.
No auge do seu delírio queimava objetos e urinava em suas próprias roupas; o rei foi se fragilizando ao ponto de não poder se tocado por outra pessoa, ele tinha a sensação que podia ser fragmentado até mesmo numa pequena queda. Mesmo com todos os cuidados médicos e os recursos usados à época Carlos Vl faleceu em 1422, sem a cura do seu problema mental.
No caminhar das civilizações e reinados tivemos inúmeros casos de loucuras dos seus principais atores dos Poderes constituídos. Outro caso que merece registro é do imperador romano Marco Aurélio Cômodo, ele se autoproclamou a reencarnação do herói grego Zeus, determinando que seus súditos assim o tratassem.
Na sua loucura avassaladora o imperador passou a promover carnificinas nos jogos flavianos. Um dos seus prazeres prediletos era decapitar as cabeças de alguns avestruzes e se regozijava com as aves correndo pelos pastos sem suas devidas cabeças. Para que aquela loucura não se transformasse em risco para, principalmente seus parentes, esses resolveram acabar com a situação despótica.
Havia uma ideia recorrente e vigente no contexto da Europa Moderna, pregava o chamado “direito divino dos reis”, representava a existência do monarca refletindo sempre seu desejo divino, essa justificativa não era condizente com o comportamento de alguns reis, com víeis de loucura, com total ausência de sabedoria e equilíbrio e bom senso para assumir qualquer função.
Toda essa narrativa foi para justificar meu ponto de vista sobre o atual momento político que passamos. Temos observado que a República brasileira tem sido castigada pela inoperância dos seus Poderes, ocupados por autoridades devidamente questionadas, não só pelos mais esclarecidos cidadãos, como pela massa mais simples que sofre com a incerteza jurídica e o caos estabelecido pela contaminação surgida dentro do núcleo soberbo dos comandantes arrogantes e por não dizer mal intencionados.
Caso esse pensamento não seja verdadeiro só há uma segunda hipótese e é aquela que está mais próxima de uma realidade triste e melancólica, os homens que comandam o país perderam o juízo. No Executivo, o presidente Bolsonaro consegue piorar tudo que se apresenta ruim, menosprezando seus correligionários, desautorizando a todos, comprando briga com quem lhe importune, impondo seu ponto de vista quando o ideal é que prevaleça o bom senso e o equilíbrio na convergência dos pensamentos.
O presidente Bolsonaro consegue desmontar uma equipe escolhida por qualidades técnicas e vem substituindo-a por elementos políticos numa desastrosa escolha, com a clara intenção de tentar se manter no cargo até que os novos aliados entendam que eles representam apenas uma nuvem passageira senda levada aos quatro cantos do mundo, numa viagem com prazo para começar e sem noção de rumo e em que tempo para desembarcar.
Quererá Bolsonaro justificar seu novo rumo de governança com intenção explicita de rearranjo e esfacelamento moral e mostrar aos brasileiros que ele tem liderança? Puro engano não sabe quanto, mas o preço desse apoio vai sair muito caro aos cofres públicos, fica uma certeza, quando o seu crédito ficar negativo com os novos parceiros políticos ele caminhará sozinho em direção ao cadafalso, nessa hora muitos serão os postulantes ao seu cargo, Bolsonaro verá que quem muito escolhe muita erra e que o bom companheiro segue o amigo em qualquer circunstancia enquanto que os aventureiros preferem os bons momentos e brisa fresca.
O Legislativo é um aliado duvidoso, é favorável a qualquer projeto desde que o mesmo lhe traga vantagens políticas e lhe proporcione respaldo na sua caminhada em direção ao sucesso da reeleição na presidência da Câmara, verdadeiro jogo de cartas marcadas. Enquanto o presidente do Senado e, por conseguinte, do Congresso Nacional, joga na retranca e na paciência dos que sabem esperar pelo momento certo, sem alarido.
O Poder Judiciário, esse sim, tem cartas na manga, é um verdadeiro time de futebol, sabendo marcar, defendendo no peito e na raça, acuando os outros Poderes, sempre alegando a regra do jogo, portanto, joga com o regimento à mão. Com essa vantagem impõe derrotas humilhantes ao Executivo, que, além de jogar errado não sabe sair jogando, parte para o ataque levando bola nos costas, entregando o jogo definitivamente.
Enquanto a Nação assiste essa peleja, triste e vergonhosa, vendo seus mortos sendo enterrados em valas comuns e coletivas, seus pacientes gemendo de dores nas UTIs de hospitais lotados, com o novo secretário da Saúde perdido entre os equipamentos para solução dos problemas causados pelo Coronavírus, que não chegam e os que conseguem aqui chegar são insuficientes para tanta demanda.
Infelizmente, temos um país acéfalo, sem coordenação e sem controle, tudo ao Deus dará e não é por aí, estamos sendo vencidos pelo inimigo invisível, se não mudarmos a tática do jogo será difícil sairmos dessa crise com ar de moço bom. Fica a sensação que a loucura tomou conta dos nossos administrados, o que é pior, eles não estão encontrando a parte de saído desse caos orquestrado pela incompetência, arrogância e absoluta falta de humildade, quando o que prevalece é a obstinação pelo Poder, e pelo quem manda mais. No final dessa história ridícula vai ficar a certeza que todos nós sairemos perdendo e o povo muito mais que a seleta classe dos desajustados tidos como poderosos.
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