O Fato Sem Politicagem 05/12/2020
Hoje eu acordei com a sensação do corpo pesado, como se fosse despertado de um sono com duração de 40 anos, repentinamente, no entorno das 07h00min, o telefone toca é minha filha em resposta a uma da minha esposa, que lhe enviara, felicitando-a pela passagem do seu aniversário. Definitivamente, acordei o peso do corpo não era tanto, mas me lembrei de que o tempo representava 40 anos decorridos, desde o nascimento daquela que era mais criança, agora transformada em uma mulher madura, equilibrada, dona do seu nariz, casada e família constituída, longe do espaço físico dos seus pais.
Pus-me a pensar! Desde que me lembro das coisas a vida mudou muito, ou seja, a sociedade e população mudaram muita, a vida continua na sua rotina de sempre, sempre dois dias seguidos intercalador por uma noite a nos mostrar que tudo tem começo meio e fim, só não aprende quem não quer. Logo eu que nascera no início da década de 1950, exatamente em 53, tenho mil razões para sentir o fardo pesado sobre os ombros, não só pelo peso dos anos, porém e principalmente pela velocidade que as décadas tomaram em direção ao futuro.
Comecei a fazer uma reflexão sem me apegar aos fatos pontuais, apenas me localizando no tempo e no espaço, na expectativa de formatar um caminho percorrido por entre trilhas, estradas, atravessando rios, matas, cerrados e até pântanos, aliás, nas zonas urbanas as ruelas, ruas, becos, avenidas e marginais, oferecem tanto perigo quanto a zona rural. Gostando de escrever como gosto, de política, seria lógico que me norteasse com esse tema. Não tenho dúvidas que aquela década foi importante pelos seus 10 anos sem golpes de Estado e com duas eleições para presidência da República, do ex-ditador Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, ambos vencedores.
Depois de Getúlio lançar as bases do desenvolvimento no campo automotivo, inaugurando a Petrobrás, Juscelino impulsiona essa iniciativa e implanta, em definitivo, o polo industrial paulista com a implantação de várias montadoras e fábricas voltadas a esse segmento e no mesmo parque industrial. Era a transferência do homem do campo para a cidade, com índice de 24% da população rural, correndo em busca de novas oportunidades, era o homem em busca da sorte, tão desejada!
É bom lembrar, a imprensa, em geral, com a liberdade oferecida, mormente no governo de Juscelino se expande e jornalismo político para dominar as ações dos jovens jornalistas entrando para o mercado de trabalho, com seu modernismo e popularidade. Não podemos deixar de citar o grande mérito de Juscelino na transferência da Capital Federal, do Rio de Janeiro para o Centro-Oeste, com a inauguração de Brasília. Comecei a tomar ciência da situação já no começo dos anos 1960, depois dos meus sete anos, pelo menos ainda guardo fragmentos de informações daqueles tempos.
As novidades começaram a aparecer nos comércios locais, novos carros, número reduzido de modelos, em paralelo chegavam os televisores, vitrolas, geladeiras e outros equipamentos, uma cópia das residências americanas, até então só vistos nas telas dos cinemas de mesma origem. A música brasileira passava e premiar o mundo com a Bossa Nova e uma harmonia nunca vista antes, verdadeiro deleite para os ouvidos.
Tudo ia bem até no começo dos anos de 1960, houve uma inversão de valores, a Democracia é asfixiada pela esquerda brasileira, patrocinada pelo Comunismo traiçoeiro, quase em um golpe de sorte tentam tomar o Governo Brasileiro, fomos salvos pelo Exército nacionalista e o Brasil passar a ter um Governo Militar e seus reveses. O Brasil passa por uma fase de comoção social, a luta entre a Esquerda e a Direita, com acusações mútuas, muitos exilados, mortes também aconteceram, mesmo assim, o nosso país continua tomando impulso e se industrializando, usinas hidroelétricas sendo construídas, estradas sendo abertas; era a Nação se interiorizando.
Entramos pela década de 1970, finalmente o Brasil volta a ganhar uma copa do mundo, a música agora ditava novas modas, depois da Jovem Guarda, entra a safra dos artistas baianos com o regionalismo sonoro, ajudado pelo samba que começa a despontar no cenário internacional. Esbarramos na década de 1980 e começa nova crise do petróleo, quando o produto foi usado como arma de manipulação entre nações com seu prelo dobrando, o alvo principal era os EUA que representava o maior consumidor mundial e também importador.
Nessa altura da vida eu já tinha passado pela UFPE, segui para São Paulo, continuei trabalhando no setor Farmacêutico, depois o setor Químico, casei, constituindo família e o nascimento do meu casal de filhos, nesse ponto entra a história da minha filha referendada no início do texto. Não por causa dela ou do Junior, mas foi a pior fase da minha vida, autoafirmação profissional, educação dos filhos, transferências de domicílios e Estados, problemas de saúde, com resquícios, rascunhos ou rebotes, como queiram.
Tive que mudar de empresa, em nome da saúde, saí da condição de empregado para empregador, rodei o Centro Sul, atuei em âmbito nacional, fiz pacto de guerra com a minha esposa, a guerreira sem cargo, mesmo sendo bioquímica foi para o sacrifício, o objetivo era proporcionar uma realidade menos áspera para os filhos. Chegamos ao ano de 2020, como se diz no popular: dilapidado. Com toda sinceridade, depois de todos esses anos, não estou choramingando, estou simplesmente relatando um fato real, de muitas idas e vindas, ganhos, perdas e danos, porém o nosso maior lucro foi à recompensa de termos os filhos que temos.
Se alguém me perguntar, hoje, se tenho algum arrependimento eu direi que sim, seria tudo com o mesmo objetivo, mas não deixaria meus filhos longe de mim, como os deixei por muito tempo, simplesmente para realização profissional e no período mais crítico da vida deles. Ainda bem que eu tive a esposa que soube administrar essa minha ausência, se transformando em pai e mãe ao mesmo tempo. Nada pode ser feito para que eu possa recuperar esse tempo perdido, pouca gente sabe comensurar a intensidade do sentimento de perda numa situação como a minha; só me resta engolir o choro e tocar a vida para frente. Parabéns Isabel pelos seus 40 anos.
Genival Dantas
Poeta, Escritor e Jornalista
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