O Fato Sem Politicagem 02/12/2020
Segunda metade da década de 1980 eu fora contratado por uma multinacional para implantar sua primeira unidade comercial e distribuidora para o Centro-Oeste, inicialmente, uma das minhas tarefas foi alugar imóvel na Grande Goiânia/GO, onde seria a sede. Localizei o imóvel, tamanho e localização ideal na grande Goiânia e seu proprietário. Fui até Brasília residência do proprietário do referido imóvel, para desenvolver as respectivas tratativas.
Na sequência o localizei na sede Federação das indústrias, negócio acordado me dirigiu ao auditório onde estava sendo proferida palestra do ilustre palestrante Cristovam Buarque, em seguida almoçamos em companhia de alguns diretores, eu estava acompanhado de um irmão de um dos diretores da Federação.
Tudo isso dito apenas para falar da satisfação assistir, presencialmente, a uma palestra daquele que era considerado, e ainda o é, uma das maiores inteligência do nosso Brasil. Cristovam Buarque, pernambucano, graduado em Engenharia pela UFP, com doutorado em Economia, pela Universidade Panthéon-Sorbonne.
Ele que na época era reitor da Universidade de Brasília, 1985/1989, depois seria governador do Distrito Federal; 1995/1998; senador de 2013/2019; ministro da educação, 2003/2004; candidato à Presidência da República em 2006, obtendo 2,5% dos votos úteis; não sendo reeleito ao terceiro mandato para o senado em 2018.
Dia 20/11, último, como faço nos últimos 50 anos, leio os artigos de alguns jornais, dentre eles os constantes no “O Estado de São Paulo”, de imediato me chamou atenção, no Espaço Aberto, trabalho escrito pelo conferencista, escritor, professor e político, Cristovam Buarque, cujo título era “Desculpa pelo atraso”.
Como sou leitor assíduo da sua produção literária, imediatamente comecei a ler o seu relato. Confesso que nem o título nem mesmo o teor do texto desenvolvido me causaram estranheza, era um desabafo sincero de quem muito lutou em defesa da educação no nosso país. Entendi perfeitamente a decepção e a tristeza contida nas palavras do professor Cristovam.
Ele começa pedindo desculpas por não ter feito mais pelo nosso povo, com relação ao setor educacional, lembrando que enquanto esteve no órgão específico, MEC, da área educacional, teve apenas um ano para desenvolver um trabalho mais profícuo, compreendemos professor que o seu tempo foi sucinto, o suficiente para poucas ações pontuais.
Ademais, quando o seu projeto foi criando corpo, o presidente da República, na época, por ironia do destino, enquanto o senhor viajava ao exterior, ele, o Luiz Inácio Lula da Silva, aquele a quem o seu esforço em união com o de outros correligionários políticos ajudaram a elegê-lo, simplesmente o demitiu, por telefone, sumariamente.
Os números ali apresentados são basilares para uma educação eficiente e eficaz, entretanto o custo é alto, mesmo considerando os benefícios reais e necessários. Necessitaríamos de R$15 mil/ano/por aluno, para fazermos uma escola ideal e extensiva aos filhos dos ricos e pobres. Professores com salários de R$ 15 mil/mês e atendimento de 30 alunos por classe, realmente esses são números da educação de país de primeiro mundo.
Outro aspecto levantado seria a educação nacionalizada, mesmo porque poucos são os Municípios e Estados que podem financiar esse tipo de atividade para a população, mormente aquela educação inicial, da base, o primário, o fundamental, até chegar ao 3º grau.
Dessa forma estaríamos praticando, verdadeiramente, uma nova revolução na sociedade, depois da Lei Áurea 1888, a revolução industrial, inicio do século XX, precisamos desatar o nó da Abolição, definitivamente, tirando as amarras que ainda nos separa. Com essa ideia educacional em prática libertaríamos os mais pobres e descriminados e teríamos fundamentalmente a inclusão social em definitivo da nossa miscigenação.
Estamos mergulhados no apagão educacional faz muito tempo, depois da Nova Carta o país só tem piorado; os governantes não têm feito nada para melhorar o quadro de encolhimento cultural, pelo contrário, depois do Paulo Freire mergulhamos definitivamente na escuridão do saber, nossos alunos cada vez mais distantes de um aprendizado coerente e proporcional ao seu tempo e necessidades, estamos sendo tragados pela incompetência.
Obrigado professor Cristovam Buarque, mesmo o senhor não tendo feito o que devia fazer, por vários fatores, até entendemos sua posição, suas companhias políticas não foram aquelas que lhe proporcionassem força suficiente para atingir seus objetivos, talvez esse tenha sido o seu pecado por não ter apoio político no próprio governo que o senhor ajudou na sua efetivação.
Dessa forma, podemos admitir que o senhor esteve sempre no lugar certo, Governo do Distrito Federal, MEC e Senado Federal, porém com as pessoas erradas. Mesmo aos 74 anos, tenho certeza, com a sua capacidade intelectual e vigor físico, o Brasil tem muito a ganhar com sua atuação pelo país, não desista, insista em nos assistir, o Brasil preciso muito dos brasileiros com a sua resiliência e capacidade política, independente de ideologia.
Genival Dantas
Poeta, Escritor e Jornalista
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