O Fato Sem Politicagem 15/03/2021
Muitas vezes as soluções vêm por atalhos, desvios, variantes ou até mesmo por outras concepções quando o impossível chega ao ponto do inevitável. Como é uma constante no governo Bolsonaro, quando algo vai mal, principalmente em decorrência da incapacidade administrativa do próprio presidente com sua inoperância, fatalmente, o auxiliar mais direto na área de turbulência é colocado à disposição, como uma oferenda aos deuses do inacreditável.
Não vou entrar no mérito da capacidade operacional do ministro da saúde Eduardo Pazuello, cobrei por várias vezes e em vários artigos, um pouco mais de atuação do ministro no exercício do cargo, porém como sua saída do ministério são favas contadas é preciso que sejamos coerentes deixando evidenciada uma situação clara e objetiva, o ministro errou na condução dos trabalhos enquanto ministro, entretanto ele não errou sozinho, mais ainda, acredito que ele tenha sido induzido a erros pelo seu próprio chefe direto, o presidente, Jair Messias Bolsonaro.
Nesse momento de mais uma turbulência no governo central, é de bom alvitre não esquecermos que a situação do ministro Pazuello é insustentável desde o início, numa operação tapa buraco, em substituição ao ministro anterior, que era médico, Nelson Teich, pela formação acadêmica, talhado para o cargo, se viu na obrigação de seguir a cartilha bolsonarista e implementar uma política negacionista, coisa que os dois ex-ministros anteriores não se permitiram ousar nesse sentido.
Se por acaso o general Pazuello seja dispensado das suas funções não será novidade, pois a reação do governo não podia ser outra, tirar do caminho aquele que lhe servira, apesar dos números negativos, com a fidelidade canina, preferindo que os alicerces do seu castelo fossem ruindo ao ter que se indispor com aquele que nada segura ou sustenta se o seu crédito esteja mal avaliado.
Pazuello teve, ou tem a dignidade de se manter firme no seu propósito de servir ao Estado brasileiro de cabeça erguida mesmo sendo tratorado por todas as correntes políticas e pelos próprios militares que exigiam que ele fosse para a reserva, pois sua atuação estava comprometendo a classe dos militares, mesmo assim, seguindo a cartilha da sua origem militar, se manteve até hoje irredutível, pelo menos nesse aspecto temos que respeitá-lo pela sua integridade.
Para resolver o impasse, vacância do cargo, Bolsonaro tenta, em primeira mão, o concurso da Dra. Ludhmila Abrão Hajjar (professora, médica, pesquisadora, cientista, especialista em cardiologia e terapia intensiva, reconhecida mundialmente pela sua capacidade na área médica; na atualidade ela é supervisora da Cardio-Oncologia do Instituto do Coração – INCOR – do Hospital das Clínicas – HC-FM/USP – e Coordenadora da Cardiologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – ICESP. Atua, ainda, na linha de frente no tratamento de pacientes com Covid-19.
A Dra. Ludhmila, a priori, recusou o convite feito ontem pelo presidente Bolsonaro, pensando bem, ela está absolutamente, ante a situação em que nos encontramos, ela é muito grande para servir, diretamente, um governo tão pequeno, não me refiro ao Estado brasileiro, mas a desorganizada estrutura governamental estabelecida desde 2019, no Planalto Central. Além disso, o Brasil precisa dela aqui fora, no governo ela corre o risco de ver seu trabalho atrapalhado por quem não entende nada de qualquer tipo de atividade, principalmente atividade médica.
Enquanto o presidente Bolsonaro não se compenetre de se juntar ao grupo de brasileiros, no comando dos Estados e Municípios, na luta contra o Coronavírus, com uso de equipamentos e materiais, prescritos por quem efetivamente entende da matéria, infelizmente ele vai ter que se assessorar com profissionais que sigam sua cartilha desatualizada, contra todas as regras e procedimentos no combate à pandemia que nos assola.
Particularmente, não acredito que Bolsonaro venha convencer alguém livre e de bons costumes, imbuído de propósitos cívicos e honestos que queira assumir o cargo de ministro da saúde, nesse momento de extrema gravidade, a não ser por ideais políticos. Nesses entrementes, fica bem para os mais afoitos se contentarem com mais uma edição de um novo nome voltado aos princípios e projetos do Centrão, o mais novo grupo político em que Bolsonaro virou refém. Alguma dúvida?
Genival Dantas
Poeta, Escritor e Jornalista
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