O Fato Sem Politicagem 15/01/2021
Longe dos muros da caverna de Platão e seus fantasmas, tanto no tempo como no espaço, avaliando apenas como um produto, composto vital aos que dele precisa para a sua sobrevivência, o oxigênio sempre lembrado e usado nas indústrias de vários segmentas, principalmente na metalurgia e siderurgia, como enriquecimento do ar de combustão, se justifica muito mais preciso na hora de manter ou até mesmo recuperar vidas, na área medicinal.
Chegando ao delírio do ser humano quando a vida fica posta, na prática quando sua obtenção fique difícil e chegue ao necessitado antes do desfecho final de pacientes sendo traduzida em matrix e finalmente em morte. Essas colocações até difíceis para entendimento dos menos avisados sobre sua necessidade nesse momento trágico que atravessamos e, sobretudo para a população do Estado do Amazonas, especificamente aos moradores de Manaus.
Começo a me explicar, para quem não sabe, antes de me qualificar como poeta, escritor e jornalista; passei por algumas atividades profissionais, da minha adolescência, passando pela juventude até atingir a maturidade. Dentre os mercados em que atuei: rádio, farmacêutico e químico. Vou me ater ao ramo químico onde tive uma atuação forte, ele se mistura ao farmacêutico, médico e hospitalar.
Em determinado momento trabalhei na indústria de gases atmosféricos, especialmente em duas delas, muito importantes para o mercado nacional que era a White Martins e AGA S/A. Ambos foram incorporadas por grupos maiores ficando mais importantes ainda no mercado internacional. Quando observei esse tumulto criando no entorno do oxigênio e sua falta, mormente em Manaus, comecei a perceber o quanto a humanidade é falaciosa e inútil para a própria raça nesse momento de desespero.
Existem em ação muitos fatos e fake news, palavras de radicais iguais e desinências distantes, tanto na origem como na grafia, passando pela sua importância no vocabulário. Ainda bem que a própria White Martins (Union Carbide, Praxair e Linde), indiferente ao caminho percorrido pela empresa e pelas mãos dos seus acionistas majoritários quero manter a imagem que criei dela dentro de mim por mais de uma década que ali trabalhei.
Naquela época, metade dos anos 1970, era um pequeno grão de areia naquela praia cortejada e desejada por muitos e ao alcance de poucos, lembro-me quando ainda vendedor de gases para o mercado medicinal e uma situação comercial criou um fato relevante para minha memória, um hospital escola, em São Paulo, precisava urgentemente que um tanque de oxigênio fosse interligado em uma rede de outro tanque do mesmo produto, pois o outro fornecedor tinha cortado o fornecimento e só havia reserva do produto para algumas horas.
Como havia redes específicas e estanques, mesmo na mesma área física, fui chamado ao hospital para providenciar uma operação providencial e urgente. Fiz meus contatos imediatamente, o socorro veio de imediato com distribuição de cilindros de gases medicinais, oxigênio, por todos os andares abastecidos pela rede referenciada e providenciada a interligação necessária.
Foi uma correria de aproximadamente 12 horas de tensão, pois a ala em questão era justamente reservada ao berçário e parturientes. A operação teve início às 15 horas e terminou aproximadamente às 03 horas, como a parte externa não tinha cobertura, como é natural, área reservada aos equipamentos de criogenia, com muita chuva que caia durante o horário noturno, eu me coloquei como auxiliar da equipe, pois fizera uns croquis sem planta baixa, auxiliar.
Depois da operação realizada, os operados da nossa empresa e os elementos da manutenção do hospital que ficara de plantão, estavam todos molhados, famintos, com os corpos doídos e sonolentos. Como eu estava ainda com roupa de trabalho, terno e gravata, mesmo tendo tirado parte da roupa, continuei encharcado e tive o prejuízo de um par de sapatos que ficou sem condições de uso a posteriori.
A moral dessa história é que o assunto foi parar na diretoria da minha empresa por conta de uma correspondência do diretor superintendente do hospital, que servira futuramente para uma promoção que recebi tempos depois. Tenho certeza que esse fato foi determinante no meu progresso dentro da empresa. Estou contando esse fato não para me enaltecer, um caso ocorrido por mais de 40 anos, a maioria das pessoas estão aposentadas, muitas das quais certamente não estão entre nós.
O recado é para os mais jovens, somos hoje o que fizemos em nosso passado e quem não se esforçou no passado não terá um presente digno e nem proporcionará a si mesmo um futuro gratificante. Estou lembrando tudo isso para voltar ao Estado do Amazonas e dizer que muito embora ocorresse ruído na comunicação entre governos e área médica do Estado e da cidade, não é hora de criminalizar de caçar bruxas.
Como as empresas de gases são grandes e sérias, acredito que, apesar das mortes, por conta de inabilidade administrativa e ausência de iniciativas, a providência tomada por quem de direito e suas assertivas farão estancar a falta do oxigênio para aquele Estado, com redução máximo de mortes.
Muita gente tentar tirar proveito da situação, nesse momento triste e melancólico, outras até procuram enaltecer políticos de outros países, caso específico do Maduro, da Venezuela, que teria oferecido enviar oxigênio do seu país, falácia, a White Martin tem plantas de oxigênio distribuídas pela América do Sul, com real potencial de remanejar o produto de outros países com melhor acesso.
No momento é necessário que o produto seja transportado na sua forma líquida e pela premência que seja em tanques criogênicos, maiores quantidades em recipientes mais leves e o resultado é fantástico, cada m3 de líquido equivale a 1000m3 de gás. Ainda há pequenas fábricas de oxigênio medicinal que podem ser adaptadas dentro do ambiente hospitalar para uso emergencial, esse é um assunto a ser pensado em outra ocasião, depois da tempestade.
Numa conta redonda cada 100 leitos hospitalares, em hospital geral, o consumo equivale a 1330 m3/mês, em números redondos. Agora na situação em que se encontra Manaus é muito difícil fazer algum prognóstico de consumo, estamos, efetivamente em regime de guerra naquela região, vamos ficar espertos para que não tenhamos novos casos iguais ao que ocorreu naquela Capital, principalmente em locas longínquos e de difícil acesso. Essa situação não é culpa apenas dos governos, a população tem grande parcela de contribuição por não seguir rigidamente as orientações dos técnicos e cientistas da área médica.
Genival Dantas
Poeta, Escritor e Jornalista
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