Texto lido, pela minha filha Isabel Cristina Dantas Barra, nas comemorações de Francisco Cândido Dantas, no aniversário de 100 anos, se ele estivesse vivo, na Paróquia de São Francisco – São Bentinho/PB, terra natal do homenageado.
Francisco Cândido Dantas, nascido nesse torrão nordestino, denominado de São Bentinho, não fincou raízes, mas lançou aos mares de calmaria ou tormenta seu barco e ziguezagueou sempre no entorno do seu lugar bonito que ele denominava de porto seguro, lugar que ele vinha recuperar suas energias, em companhia de seus amigos e familiares que aqui ficaram, enquanto comerciante em Pombal, seu segundo lar, o primeiro era o aconchego da sua casa, em companhia da esposa Maria Cristina Torres Dantas e filhos.
Hoje, 08 de fevereiro de 2020, quando nos reunimos para fazer uma reflexão sobre o meu pai, em São Bento, dois dias depois da data do seu aniversário (ele completaria 100 anos se aqui estivesse fisicamente, entre nós), justamente no local de suas maiores saudades.
Só agora é que percebo os motivos pelos quais ele foi tão ligado a esse lugar pequeno, territorialmente falando, porém, gigante na fraternidade e acolhimento do seu povo, forma inconteste de sermos ocidentais, americanos do Sul, brasileiros e sertanistas do nordeste brasileiro, sobejamente reconhecido como berço do sertanejo, homem forte e desbravador.
Essa gente que aqui habita é composta de várias famílias dentre elas, há os Cândidos e Dantas, raízes de muitos anos, constituídas de coragem, determinação, amor e capacidade para lutar pelos seus; assim era meu pai, apaixonado que foi pela sua terra, família, amigos e parceiros de jornadas, assim como um pássaro cantor deixou, em nossas memórias, laboriosas canções em substituição aos cantos tristes que nos envolviam em muitos momentos.
Ele foi um trabalhador inquieto e persistente, andarilho, em terras virgens ou não, buscou seus objetivos em lugares distantes sem esquecer-se do seu berço, constituiu família em local próximo da sua origem para não morrer, antecipadamente, das saudades que sentia e que lhe tornavam peculiar.
Como seu filho posso assegurar sua obstinação pela educação de todos nós, pois, mesmo não sendo possuidor de uma cultura vasta tinha o alicerce construído pelos ensinamentos dos poucos recursos escolares, mas de uma vasta experiência de vida adquirida nas suas andanças. Não tenho dúvidas que a presença da nossa mãe em sua vida, como esposa e companheira, sendo ela professora, foi de fundamental importância nos seus objetivos de vida.
Ao contrário de muitas pessoas que se entregam às circunstâncias, nunca se abateu com as dificuldades que a vida lhe apresentava na proporção que o tempo passava. Ele foi, incontestavelmente, um idoso resiliente, nunca se apresentou como velho: apesar dos percalços, ele sempre teve em sua existência, a bonança nunca foi uma constante em sua, entretanto com determinação e obstinação superava os obstáculos que se apresentava em seu caminho.
Quando os problemas surgiam com grau de dificuldade superior à sua capacidade de ação e reação era em Deus, seu protetor, que ele ia buscar força e amparo, não sendo surpresa encontrar nas plantas e águas correntes a presença daquele que lhe dava guarida. Poucas foram às vezes que o vi chorar e, quando ocorria, o encontrava na posição de joelhos a orar, assim era ele, um homem de muita fé e pouca religiosidade, sempre preferiu o silencio da alma ao ruído do corpo.
Os pais não deveriam envelhecer, nem partir; infelizmente, como a vida está sempre recomeçando e findando, fórmula natural da própria natureza, para que o ser humano seja renovado na sua espécie e essência dentro da bondade e permissão do pai eterno, eles, os pais, seguem de alguma forma nos olhando a distância, onde quer que eles estejam a nos acolitar em nossas empreitadas.
Encerro esse texto com testemunho do quanto seus filhos, assim como eu, o amaram e continuamos a amá-lo, sem paliarmos nossos sentimentos, e a recíproca foi sempre verdadeira. Dessa forma, fomos criados e hoje criamos nossos filhos, netos e bisnetos, assim adjuramos que nossos descendentes possam repassar aos seus, o mesmo comportamento dos seus ancestrais.
Dessa forma, temos a certeza da nossa contribuição, todos nós, da prole de Francisco Cândido Dantas e Maria Cristina Torres Dantas, além da participação efetiva dos Cândidos e Dantas, para continuidade e formação de um mundo melhor e em nome de Deus. Assim seja.
Genival Torres Dantas
Poeta, Escritor e Jornalista
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