O governo federal não adjuva os outros governos e nem abjura da sua empáfia (20/03/2021)
O Fato Sem Politicagem 20/03/2021
Seguindo no ritmo da insensatez de sempre, segue o governo Bolsonaro na trilha dos percalços construídos pela sua inobservância das práticas da política da boa vizinhança, principalmente, em momentos de crises como é o caso do Brasil, nesse momento de pandemia do Coronavírus e sua insistência em se reinventar com novas cepas tornando a tragédia mais aguda e dolorosa para todos nós.
Para acentuar ainda mais a crise em curso, Bolsonaro vai inventando inimigos criando dificuldades na sua relação com o Legislativo e o próprio Judiciário quando vai fazendo junções desacreditadas, creditando aos outros insucessos na condução das políticas de combate a crise real e relutante, sintoma recorrente dos que são incompetentes nas suas tarefas e transfere a terceiros sua falta de inabilidade de tratar com a realidade quando ela se apresenta sobejamente de difícil controle.
Tudo que eu escrever hoje será mais uma repetição dos mesmos desatinos provocados pelo governo federal; vou procurar me ater a dois assuntos que estão em evidência e que reputo de muita gravidade por se tratar de assuntos relacionados à vida e morte de quem se encontra em algum leito hospitalar em busca de atendimento emergencial, e que entendo um pouco, pois como profissional atuei nos dois setores, farmacêutico e na indústria química de gases medicinais.
Retorno ao assunto do oxigênio medicinal inicialmente por se tratar de insumo produzido por poucas indústrias no mercado nacional e basicamente controladas por conglomerados de interesses mútuos. Não era para o Brasil se preocupar com esse produto basilar para recuperação de pacientes que dele necessita. Lamento quando leio o trágico momento que passamos pela dificuldade que existe para transporte e estoque nos respectivos hospitais.
O que assusta é que São Paulo com 645 cidades tenha 69 delas com problema de abastecimento do oxigênio e com real possibilidade de vir a faltar o produto. O Estado de São Paulo é tido como o maior produtor de oxigênio do país, por alguns aspectos relevantes para o consumo do produto, principalmente na indústria de transformação como a metalurgia e siderurgia, além de outras indústrias de grande consumo de nitrogênio, caso específico do papel e celulose.
Considerando grande São Paulo, grande Campinas, Baixada Santista e Vale do Paraíba, concentram-se ali as grandes usinas de produção de gases atmosféricos e o fabrico dos tanques criogênicos para estoque e transporte do produto junto aos clientes, mesmo de elevado consumo, dessa forma, não era para haver essa preocupação pelo menos no Estado de São Paulo, que tem essa particularidade de produção e conta com a melhor malha viária pra transporto do oxigênio líquido para gaseificação, no próprio cliente.
Ainda há outro fator positivo que é determinante no suprimento do produto junto aos hospitais que é a existência de mini fábricas, de oxigênio, que podem ser adaptadas na área física de cada hospital. Acredito que esse equipamento, doravante, seja necessário dentro dos hospitais, pelo menos os maiores, para garantia do produto, em caso de consumos especiais e mesmo esporádicos, como é o caso do atual momento.
Se São Paulo com todos os recursos favoráveis ao seu favor está numa situação difícil, no que tanque ao suprimento de gases, em determinadas cidades, fico imaginando quão difícil é a situação dos Estados do Norte, Nordeste e até mesmo Centro Oeste, pela distancia das fontes de abastecimentos e com suas estradas inferiores para o transporte do oxigênio líquido, maior volume transportado para os grandes volumes de consumos!
Depois dessa situação adversa no mercado gasoso acredito que após a crise a própria indústria de gases atmosféricos vai passar a ter uma visão diferente, o mercado hospitalar sempre foi considerado como um mercado menor, pelo aspecto de consumo, claro que sempre existiu uma preocupação muito grande com o cuidado do produto armazenado dentro do cliente, além das centrais de oxigênio líquido há uma reserva gasosa para emergência em caso de problemas na central de líquido, pois se tratar de um equipamento de produção e passível de falhas.
Na indústria farmacêutica tive uma atuação bem minuciosa, passando pelo balcão de farmácia, ao trabalho de venda em distribuidora de medicamentos; fui na sequência propagandista vendedor em laboratório farmacêutico, supervisor, gerente, e finalmente diretor em indústria química e farmacêutica, na linha da farmacopeia. Lembro-me perfeitamente da dificuldade que tínhamos na produção de “Hipoclorito de Sódio 2%” para combate da cólera, principalmente na época do surto de ocorrido entre 1991 até 2004, deixando um rastro de 168.646 infectados e 2035 óbitos. Claro que era uma situação de menor proporção, mas de extrema preocupação.
Existe hoje uma preocupação muito forte com medicamentos usados na intubação de pacientes, alguns Estados da Federação já correm em busca de estoques extras, acusando sua escassez no mercado, mesmo com alguns produtos tendo sido majorados em até 434 e 362%. Os estados pedem a interveniência do governo central para compra centralizada e distribuição posterior para todos os Estados, como uma solução rápida e efetiva.
É chegado o momento de o governo Bolsonaro tirar a armadura de guerra, levantar a bandeira branca da paz entre os entes federativos e fazer um pacto de harmonia, como disse o ex-presidente Michel Temer, em sua entrevista de hoje no Jornal “O Estado de São Paulo”: UNIDOS E VACINADOS. Eu direi, caso Jair Bolsonaro tivesse essa atitude ele teria a possibilidade de reverter o atual quadro negativo para o seu governo, dando-nos a esperança de que algo de bom poderia acontecer no Brasil, mesmo com ele à frente do Governo.
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