O momento exige de todos nós muita reflexão, justeza de caráter, paridade entre a ética e a moral e antes de tudo, humildade. Esses são os requisitos que nortearão nossas vidas daqui para frente para podermos nos relacionar sem traumas ou ressentimentos. O coronavírus não só escancarou como arreganhou o que ainda restava de mais digno no ser humano que era a confiança e o respeito no relacionamento humano.
A pandemia funcionou como um tiro mortal contra a hipocrisia recorrente entre os Poderes da República e até mesmo na relação social entre nós simples mortais; com as demandas surgidas durante essa crise que ainda não ultrapassamos, ficou evidenciado o quão distante se apresenta a isonomia pelas nossas leis. Em face de essa triste constatação muitas são as situações que sofrerão mudanças radicais, quando o novo normal vier, quando nessa nova fase estivermos, teremos que nos adaptarmos com as novas regras e comportamentos, o governo tem pela frente a reforma fiscal, podendo ser fator de equacionamento com a iniciativa privada:
· Diferença entre o Poder Público e o Privado – enquanto o Estado com o Governo Federal reserva, para pagamento de folha e encargos sociais, esse ano, pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) R$ 320 bilhões e disponibiliza um pouco mais de R$ 1 bilhão para o saneamento básico, há uma verdadeira distorção entre custos obrigatórios e os discricionários, esses últimos voltados para a Nação e sua gente;
Enquanto o primeiro é direcionado para uma casta de privilegiados, com salários médios 70% superiores aos dos funcionários da economia privada, com mais um agravante, os trabalhadores do setor privado não possuem estabilidade de emprego, passando por esse perrengue, muitos desempregados, sobrevivendo do auxílio provisório dado pelo Governo Federal.
· O Estado mais atrapalha que ajuda – nessa hora de crise e analisando friamente os fatos em si, se o Governo fosse menos guloso nas suas arrecadações com cobranças de impostos e taxas, perdemos uma grande oportunidade de equacionarmos o custo da mão de obra, com a recente reforma da Previdência, o custo com a folha de pagamento poderia ser menos onerosa refletindo em uma sobra maior de valores para ser agregado ao salário do trabalhador e menos custos para o empregador, dessa forma muitos empregos surgiriam na economia do rearranjo, é uma questão de estudos de viabilidade econômica, os economistas estão ai para fazer seus cálculos.
· A economia em pânico – estamos todos com o pensamento positivo firme e até de joelhos, esperando a volta da abertura da economia, entretanto já é sabido que estamos andando sobre areia movediça, os dados, IBGE, apresentam números nada animadores, temos 1.3 milhão de empresas fechadas de forma temporária ou definitiva, das quais, 522 mil empresas avaliam que vão suspender suas atividades por conta do avanço da pandemia. Enquanto isso outras 716 mil já pararam as atividades em definitivo;
São números que sugerem grande número de desemprego, tanto para os que estavam empregados quanto para os micros e pequenos empresários, os mais afetados, que não devem continuar como empresários, buscando no mercado nova oportunidade de trabalho, mercado esse já saturado pela mão de obra disponível e desempregada.
· Principais setores mais suscetíveis – vários são os setores que buscam ajuda governamental nessa hora de infortuna, mesmo setores mais fortes como construção civil, açucareira, indústria em geral, grupos comerciais como hotelaria, alimentação, aviação e turismo, tantos outros que não precisamos nem mesmo enumerá-los. Como o dinheiro é curto e as necessidades superam as possibilidades de atendimento por parte do Governo, o socorro vai ser priorizado dos menores aos maiores, dentro do possível e as maiores premências;
Aviação, turismo, hotelaria e alimentação – esses setores se fundem pela sua operacionalidade, no que tange ao as empresas aéreas, mesmo sendo empresas de porte muitas delas já entraram em situação de crise com pedidos de recuperação judicial e até mesmo falência. Como temos poucas empresas em operação o drama para o setor é menor, mesmo assim o aporte de capital representa muito para o governo, apenas para que se tenha uma ideia, as três maiores pediram R$ 2 bilhões cada e o Governo sinaliza apenas metade desses valores. Quanto ao turismo, hotelaria e alimentação, é enorme a quantidade de empresas necessitadas, muitas fatalmente serão encerradas pela especificidade do setor e as dificuldades de pagarem dívidas desse período de descontinuidade;
Diversões e shoppings – nesse contexto temos um setor muito diversificado, cinemas, teatros, bares, circos e outros. É bom lembrar que muitos cinemas já se encontravam praticamente desativados, poucas salas em shoppings e quase nada nas principais ruas das cidades maiores, ficarão aqueles que pertencem aos circuitos de grupos já sólidos e que tenham interesses na exibição de suas próprias produções;
Os teatros devem permanecer por conta de grupos teatrais com produção e comercialização dos seus espetáculos. Os bares, pelo custo de montagem e operacionalidade muitos vão sumir outros substituirão até mesmo aproveitando pontos vagos. O circo, esse é o patinho feio, normalmente vivem em função dos seus espetáculos diários, com rendas e custos sempre se equivalendo, sem poucas reservas e muito sacrifício; muitos artistas, dessa comunidade circense, estão tentando sobreviver pela mágica da humildade e o calor humano existente entre os admiradores dos seus espetáculos e seus artistas, é mais uma realidade triste que estamos convivendo.
· Considerações finais – se fôssemos ficar aqui enumerando as dificuldades dos empreendedores e seus colaboradores, ficaríamos por muito tempo catalogando setores, empresas e pormenores que não nos convém nesse momento, temos, sim, almejar que essa fase seja menos desoladora do que está se prenunciando, por maiores que sejam as percas sejamos fortes e inteligentes suficientes para darmos a volta por cima, sacudir a poeira e nos lançarmos na nova estrada que se mostra pela frente.
Genival Dantas
Poeta, Escritor e Jornalista
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