O Fato Sem Politicagem 12/12/2020
Sabemos que as imprecisões taxonômicas de cidades, partindo sem intenção e pelo acaso, como é o caso brasileiro que copiou o modelo português da época, quando iniciada a construção de nossas cidades, espalhadas no entorno do litoral e distribuídas pelo interior brasileiro pelos nossos desbravadores, com assentamentos margeando sempre nossos rios, até então desconhecidos. Diferente foram as cidades de Teresina (1852) - Aracaju (1855) - Belo Horizonte (1897) - Goiânia (1937) e Brasília (1960)
Escreveu Charles Edouard Jeanneret Gris, também conhecido como Le Corbusier, arquiteto, urbanista, escultor e pintor (1929): “o caminho do burro de carga é tortuoso, curvo, o do homem, racional, é a linha reta. Do que se interpreta que assentamentos deveriam ser arranjos de retitude, prova inconteste da racionalidade sobre o espaço in natura.” Ele observou bem, as cidades supra referenciadas são símbolos da criação intencional do próprio homem, fugindo da tradição secular, mesmo assim não estão isentas dos problemas cruciais que a maioria das cidades está passando ou vão passar.
Nossas cidades foram se formando, na sua maioria, conforme os recursos de cada região ou local, sendo distribuída sobre solo disponível, com invasões de matas em seu entorno. Com o crescimento natural de sua população e foram adicionadas melhorias, dependendo de sua arrecadação fiscal, dentre essas melhorias o aspecto visual e urbano era levado em consideração, tanto sobre como sob o solo. Sob o solo o serviço de água e esgotos veio a posteriori e por economia financeira muitos traçados de córregos, riachos e até rios foram canalizados, principalmente nas maiores cidades.
Esse processo de canalização nem sempre seguiram o caminho natural das águas, muitas curvas foram introduzidas aos novos traçados para melhor distribuição das vias públicas e sua arquitetura mais alinhada. Dessa forma, com o crescimento populacional novos esgotos foram introduzidos e as águas pluviais foram aumentando de volume com a impermeabilização do solo, esse fato foi transformando as tubulações projetas em ineficientes, com transbordamentos e avanço das águas sobre as ruas e avenidas que por sua vez não foram dimensionadas para uma demanda maior.
O que vem ocorrendo nos últimos dias por todo Brasil, mormente no Estado de São Paulo e com escalada maior na região de Ribeirão Preto, com alcance no triângulo mineiro, pela aproximação regional é um aviso de quanto estamos vulneráveis as intempéries da natureza, escravos da nossa capacidade de investir no nosso ambiente de moradia, local de trabalho e desenvolvimento social, primordialmente pela troca de prioridades dos nossos administradores municipais que preferem fazer investimentos que lhes tragam dividendos políticos e esses só aparecem aos olhos da população, sobre o solo.
O novo marco legal do saneamento básico, PL 4.162/2019 foi aprovado pelo Congresso Nacional com a finalidade de levar fornecimento de água potável para 99% da população e 90% da coleta e tratamento de esgoto. Caso o governo não tome providências no sentido de se fazer uma reengenharia no sistema de esgoto existente, com troca das tubulações atuais por novas, de diâmetros maiores, que comportem o volume atual de descarga, o prejuízo para o futuro será de uma monta bem maior que o imaginado inicialmente.
Sabemos que somos mais de 40 milhões e 100 milhões de brasileiros sem atendimento de água e esgoto, respectivamente. Ante esses números vai ser preciso um esforço concentrado para atingir as metas preestabelecidas.
Como o Governo Central, Executivo, é ausente de qualquer rascunho de iniciativa, se faz necessário que o Legislativo, com seus senadores e deputados, se empenhem em busca de soluções para essas cidades, que são muitas, castigadas pelo envelhecimento, fiquem menos perigosas para os seus habitantes.
Elas precisam de mais cuidados que as mais jovens, portanto menos problemáticas. As cidades, assim como os seres humanos, principalmente com o avançado da idade, precisam de cuidados especiais para que não percam suas finalidades específicas.
Genival Dantas
Poeta, Escritor e Jornalista
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