Em vez de considerarmos a quarentena, provocada pela presença e receio do Coronavírus, em nossas vidas, esse quadro previsto como colapsado na relação do capital e trabalho, apesar do risco momentâneo, devemos imaginar que nunca mais o mundo, nem o Brasil serão os mesmos depois dessa experiência.
O fato é que, definitivamente, novos hábitos e costumes serão implementados na cultura do trabalho realizado pelo homem, uma realidade inicialmente contestada por muitos, porém já testada e aprovada por uma maioria de espírito pioneiro, é o mundo do Home Office virando o Anywhere, para alegria da vanguarda jovem.
Depois de passarmos por essa aprovação e superarmos a tensão provocada pelas perdas e danos que estamos sentindo, com a morte de muitos e prejuízos financeiros de outros, fatalmente teremos de partir para uma aprendizagem no novo mercado que surgirá.
Não seremos todos neófitos, afinal temos muitos profissionais perfeitamente adaptados ao modismo dos novos tempos que exigirá sempre uma perfeita harmonia entre o homem do nosso tempo com o ambiente inovador que se renova a cada ano, antigamente era em todas as décadas, ou até mesmo séculos.
Essa nova fase me fez voltar ao início dos anos 1980, quando ainda jovem profissional, foi nomeado regional de um departamento de uma grande multinacional, depois de cinco anos de batalha dentro da empresa. O biotipo do regional e suas características profissionais eram de uma pessoa com mais de 40 anos de idade, com um curriculum vitae de 20 anos de empresa e ter passado por algumas gerências de filiais, dentro da organização. Eu tinha 27 anos, 05 anos de empresa e chegado ao cargo de assistente de gerência, entretanto tinha o espírito futurista, esse era o diferencial.
No exercício da função, tratava-se de um novo departamento, longe dos olhos e da pressão do comando geral, fiz as inovações possíveis, passei a contratar recém-formados para cargos de confiança e assistência direta, todos com formação superior, priorizando a engenharia, pois se tratava de produtos técnicos e minha formação era na área humana.
Eu precisava ficar bem assessorado, principalmente naquilo que eu mesmo considerava minha deficiência, eu tinha o domínio da administração, do marketing e vendas, esse foi o diferencial, aprendi e ensinei os meus colaboradores, distribuindo-os por todo interior do Estado de São Paulo, essa era minha regional, nas micros regiões.
Esse trabalho foi muito interessante para a empresa e os funcionários, dentro de pouco tempo eles se constituíam em verdadeiros gerentes de setores, trabalhando cada qual no seu setor, sempre deleguei poderes. Com reuniões semanais, sem o desgaste de ter que viajar em média 400 km dia, ida ao setor e retorno no mesmo dia, esse era o projeto inicial a ser estabelecido. Com o sistema que implantei todos ganharam a empresa por ter funcionários menos cansados de tanta estrada, e a economia gerada por não ter os deslocamentos absurdos, os próprios funcionários por terem tempo para desenvolverem suas atividades menos estressantes.
Naquela época, há 40 anos, eu já ensaiava algo profissionalmente que viria a ser uma realidade inconteste nos nossos dias. Faço essas colocações para mostrar que o ser humano é passível de adaptação, ele depende apenas de iniciativa, criatividade e a confiança entre o comandante e os comandados.
Depois de 10 anos e entendendo que minha missão estava cumprida dentro da empresa pedi desligamento e fui recomeçar em outras paragens.
Fazendo uma reflexão sobre o homem e sua evolução é que entendemos como tudo aconteceu lenta e paulatinamente.
O homem sai da caverna, descobre o fogo, inventa os instrumentos de trabalho e a roda, deixa a sina de nômade, se estabelece às margens dos rios perenes e constrói seus núcleos habitacionais, estabelece a relação com outros homens e surge a sociedade, as cidades, na sequencia, a família. Finalmente, os governos, os conflitos e suas aberrações, dentre a nova conjuntura aparece à política e suas variantes.
Estamos aqui distante das origens e tão próximo das normas, procedimentos e leis, convertidas em critérios de relações formais. Como estamos tratando de relações trabalhistas é bom lembrar que não faz tanto tempo no Brasil, um ditador, Getúlio Vargas, sustentado politicamente pelo trabalhismo, cria e adapta a sua realidade as leis trabalhistas, tudo aquilo que foi criado na Era Vargas, quase 100 anos depois, tudo será modificado, e tinha que ser, as leis, assim como as relações não são estanques, se modifica por exigência de adaptação aos novos tempos.
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