Quando me propus a escrever o texto abaixo, foi exatamente em 29/09/2014. Quando o então senador por São Paulo, Fernando Henrique Cardoso (PMDB), sai candidato à prefeitura de São Paulo (1985), ele que fora um dos articuladores das Diretas-Já, estava praticamente com sua eleição assegurada, até o momento de participar do último debate na televisão, numa vacilada, perguntado pelo jornalista Boris Casoy se ele acreditava em Deus, a resposta não foi objetiva, ficando nas entrelinhas a possibilidade dele ser um ateu. Esse fato, mesmo desmentido por ele, de nunca ter sido ateu, custou ao futuro presidente da República a eleição e o rótulo de um homem sem Deus.
Para um país laico, preponderantemente católico, essa situação não era nem um pouco conveniente a um político estreante no Congresso Nacional, pois, ele foi sem dúvida, um grande articulador que começara a ganhar espaço no meio político e na mídia, pela sua desenvoltura no desempenho do cargo no legislativo, além do intelectual e emérito professor universitário reconhecido no meio acadêmico.
Na época, ocorreu ainda, através de boatos, que ele, candidato, na véspera da eleição, teria tirado foto sentado à mesa do prefeito da Capital paulista, para um jornal paulistano, antecipando-se aos resultados das urnas, tamanha era a certeza na sua vitória, cuja expectativa não foi confirmada para decepção dos seus correligionários e ele próprio.
O atual momento na política brasileira me fez lembrar esse episódio na vida de um homem reconhecidamente, um das maiores inteligência que o Brasil tem, vencedor na vida pública, apesar dos percalços, com uma folha de serviços prestados ao Brasil e elogiados até pela comunidade internacional, pela sua hombridade e respeitabilidade, nem por isso, conseguiu eleger seu sucessor.
Vendo a dramática situação em que se encontra a Marina Silva (PSB), candidata a presidência da República, quando sua preferencia junto ao eleitorado vem definhando a cada levantamento feito pelos órgãos competentes, realmente, órgãos de grande credibilidade no mercado. Para piorar a situação, a candidata oficial, Dilma Rousseff (PT), vem num crescente sistemático, situação inversa da Marina Silva, resultando numa diferença, acentuando-se no primeiro turno e já observado um favorecimento da candidata oficial, no segundo turno, mesmo havendo um empate técnico. Há ainda outro gravame, o candidato pelo PSDB, Aécio Neves, que vinha se constituindo numa terceira força, mas, sem mostrar nenhum perigo às candidatas que veem liderando nos levantamentos feitos; agora, mesmo em terceiro lugar, vem começando a incomodar, pela aproximação ao segundo lugar que é da Marina Silva.
Essa situação pode permanecer nesse patamar negativo para a candidata do PSB, caso ela com sua equipe de marketing não mude o discurso de campanha e procure levar uma mensagem que possa ser absorvida pelo grande público representado pelas massas mais carentes e que representam o grande contingente de eleitores voltados para os serviços prestados pelo PT, na área social, único serviço digno de elogios nesse governo, e, por receio de perder direitos adquiridos, leia-se Bolsa Família, dificilmente vai mudar seu voto a não ser por outro programa de maior consistência, que vislumbre benefícios de maior abrangência, em termos de recursos, mas, não sejam apenas meras promessas eleitoreiras e dignas de credibilidade.
Qual a relação do atual momento da candidata Marina Silva com o caso do Fernando Henrique Cardoso, fato ocorrido vinte cinco anos atrás. Na época seu concorrente e eleito, Jânio da Silva Quadros, com sua equipe de apoio, exploraram sistematicamente o deslize de comunicação, transformando-o num verdadeiro ruído, qualificando-o como uma verdadeira tragédia para um candidato com pretensões de administrar a maior cidade do nosso país, representando um orçamento maior que muitos Estados da Federação.
Candidatos opositores a Marina Silva, fizeram uma trincheira mostrando o lado inexperiente da postulante, sem ter no seu currículo nenhuma atuação no executivo, exceção à ocupação do Ministério do Meio Ambiente, no governo Lula, mesmo assim, marcada por polêmicas na liberação de licenças quando se tratava das nossas florestas, fauna e flora, uma postura de muitas polêmicas e controvérsias.
O candidato do PSDB, Aécio Neves, foi mais impiedoso e cruel, ao tentar desfazer a imagem humanitária solidificada nos seus gestos e atos em defesa de um Brasil com crescimento sustentado, defendo nossas riquezas naturais, mais ainda, mostrando sua parcimônia para com seu antigo partido, PT, sendo morosa na renúncia ao Ministério, depois de comprovada a existência dentro do governo que ela compartilhava com as falcatruas e descalabros de membros da ala nociva ao erário público e se transformado no famoso caso do mensalão Petista.
Os números do último levantamento transformaram em frenesi os ambientes dos diretórios centrais, tanto do PT, já assegurada sua participação no segundo turno, como do PSDB que ainda luta diretamente com o PSB, para continuar no páreo. Essa semana que antecedo a eleição do primeiro turno vai ser de muita lama jogada no ventilador, pois, a ética foi transformada em coisa do passado, sem nenhum valor no conceito de muitos da nova geração, perderam o respeito pelo adversário e o ser humano, trata-se de pessoa, una, um ser humano, nem isso é relevado, é o salve-se quem puder. Nesse caso há a possibilidade dos candidatos raivosos, em busca do seu sucesso a qualquer preço, nem que seja pisando-nos, ou ferindo a própria dignidade dos seus opositores, começarem a patinar na própria lama que nos jogam outros postulantes.
Friamente, o Brasil tende repetir seus erros, continuar no mesmo, e os brasileiros tão necessitados de uma nova roupagem política e administrativa, com mentes arejadas, longe dos interesses pessoais, pessoas despidas da insana cobiça ao alheio, gente de propósitos coletivos e ações de caráter moralizadoras, sem apego ao poder; ele, o poder, é produto de ações meritórias e patrióticas, nunca foi resultado de gestos voltados para projetos políticos de qualquer natureza, pessoas ou partidos.
Infelizmente, não aprendemos nada com as lições das ditaduras Getulista, Militar e grande ala Petista, lamentavelmente, continuou eleitores de cabresto; antes os coronéis das balas, cassetetes e fardas, agora dos falsos fariseus que mantém o voto do eleitor humilde e necessitado, pela troca da dor da fome e o medo de perder o direito constitucional que é da sobrevivência. Não é justo que um país com as nossas riquezas, nossa posição no cenário econômico internacional, ainda povoado por um povo nobre, fique a mercê de pessoas, sem nenhuma qualificação moral, fazendo da miséria seu instrumento de poder, mantendo cativo o eleitor pela extrema premência de recursos, uma camada da sociedade sem nenhum esclarecimento, alheio ao seu exterior, mantido na escuridão das mentiras, sem direito a ver a verdade que há na luz à sua distância, para manter a luxúria de grupos excludentes, que vivem para si, na soberba e no glamour das riquezas materiais, adquiridas pela subtração, portanto, sem nenhum mérito. Isso é um fato.
Genival Torres Dantas
Escritor e Poeta
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