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Foto do escritorGenival Dantas

Do Corso ao Sambódromo




O carnaval que é uma festa pagã e antiga, ela não é velha, pois, está sempre se renovando. Estamos automaticamente renovando sua forma e jeito de torna-la atualizada. Há registros que no início do ano de 325, portanto, na Idade Média, ano 325, na cidade de Niceia da Bitínia, hoje Iznik, Turquia. Pelas mãos do Imperador Romano Constantino, com objetivo de encontrar um consenso na Igreja da época, patrocinou o primeiro Concílio Ecumênico, contando com uma assembleia, dessa forma, representando o conjunto da Cristandade; foi deliberado sobre a fixação da data da Páscoa e a consequente promulgação da lei Canônica. O Cristianismo abraçou a festa denominada de pagã e a sua aceitação permitia que a igreja aumentasse o número de fieis, sem, entretanto, afugentar seus fieis do seu quadro.


No Brasil, considerado o maior País Católico do Mundo, tendo também o maior carnaval, sendo essa a maior festa popular do País, sempre realizada nos quatro dias anteriores a quarta-feira de cinzas, a nossa tradição, nesse festejo, vem desde o Brasil Colônia, passando pelo Império, atravessando a República Velha chegando aos nossos dias.

Confesso que a minha memória afetiva relacionada ao carnaval, em decorrência da minha faixa etária, vem desde o final dos anos1950 e início dos 1960. Lembro-me perfeitamente dos Corsos, na minha cidade natal, Pombal/PB, predominantemente as segundas e terças, quando, principalmente as crianças, desfilavam nos carros, normalmente Jeep e Rural, carros cujos modelos atendiam as necessidades dos foliões mirins.


A brincadeira consistia em simplesmente jogar água ou talco nos pedestres que ficavam perfilados à beira das calçadas para serem molhados, como quem dava um consentimento prévio. Havia ainda as matinês e bailes, com fantasias adequadas e dentro das possibilidades de cada um.


Quando eu, já um jovem estudante e trabalhador, fui estudar em Recife/PE, início da década de 1970, Capital do Frevo e do Maracatu, lá conhecei o mundo das fantasias e da alegria carnavalesca. Convivi com o Bloco Estudante de São José, bairro que eu residia e próximo ao Mercado São José, de memoráveis lembranças. O bloco fundado em 1949, com as cores em vermelho e branco, é um idoso, sem ser velho, de 70 anos. O carnaval de rua tinha uma conotação e apresentação de grandes espetáculos, era uma nova realidade que se apresentava aos meus olhos e ouvidos como forma de brilho e contagiantes ritmos dos seus instrumentos. Os bailes eram formados pela sociedade carnavalesca, sabia da existia deles, mas, como tinha ciência dos meus limites, sendo um estudante pobre, dessa forma, tive que me manter dentro das minhas possibilidades e recursos, longe, portanto, dos salões em festas.


Caminhando para metade dos anos 1970, estava eu em São Paulo, na maior cidade nordestina fora do nordeste, em termos de habitantes, ainda estudante e trabalhando, tive uma vida mais ativa nos carnavais, daquela megalópole, admirava os desfiles das Escolas de Samba, não perdendo um só desfile, tanto na AV São João quanto na Tiradentes. Na sequência, com projeto do grande arquiteto Oscar Niemeyer, no início dos anos 1991, O Polo Cultual e Esportivo Grande Otelo, reconhecido simplesmente como Sambódromo do Anhembi, naquele espaço além do desfile das Escolas de Samba, outros eventos foram deslocados para lá, procurando aproveitar o tempo e o espaço disponível.


Esse ano está ocorrendo duas situações se apresentarem no universo das Escolas de Samba paulistanas, enquanto o Grêmio Recreativo e Cultual Escola de Samba Mancha Verde, fundada em 1995, dessa forma, com apenas 23 anos, foi consagrada campeã desse ano e pela primeira vez consegue essa façanha. Na outra ponta, o Grêmio Recreativo Cultural e Social Escola de Samba Vai-Vai, cai de categoria, ele que foi fundada em 1930, ostentando 89 anos e a proeza de nunca ter caído de categoria.

Paralelamente ao carnaval de São Paulo, o Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, cantada em verso e prosa pelos poetas das vilas, subúrbios e morros, fazendo coro com o asfalto, consegue reeditar mais um carnaval fantástico, muito embora as autoridades leia-se, Prefeito Municipal Marcelo Crivella, fez corpo mole para a realização do carnaval de rua, sendo esse item o de maior sucesso e de alcance popular em todo Brasil. A resistência do Prefeito é por conta de sua posição religiosa, não recebendo nem mesmo o Rei Momo, por 3 anos seguidos, símbolo da abertura daquela cidade.


De conformidade com os acontecimentos no desenrolar da Capital carioca, alguns contratempos ocorrem por conta das chuvas, principalmente no primeiro dia do desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial, com forte destaque para Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, fundada em 1928, portanto com 90 anos, uma dama que não envelhece, superando o tempo e os percalços, guardando no seu seio grandes nomes de compositores consagrados na sua velha guarda.


Outro caso de muita angustia não ocorreu no Sambódromo do Marquês de Sapucaí (Cândido José de Araújo Viana) simplesmente Sambódromo do Rio de Janeiro, popularmente conhecido como Passarela Professor Darcy Ribeiro. O Bloco da cantora Ludmila, composto por adônicas e mais de 1200 componentes, no percurso do desfile, teve problemas com alguns foliões, desentendimentos pontuais, acarretando atendimento em 200 pessoas e um preso.


Fazendo uma análise dessa trajetória, posso afirmar, certamente, muitas coisas não foram realizadas e outras mal consumadas ficaram no passado, assim como foi feito com nossas vestes e utensílios, claro que muitos roupas e objetos os largamos para trás por puro comodismo ou vaidade, entretanto, existem coisas e situações que as deixamos, mas, não as largamos, pois, dentro de nós há vazios reclamando de antigos inquilinos ou ocupantes. Como a dúvida é ausência da certeza, quero pelo menos ter o benefício dela.


O carnaval não é imortal, certamente, mas, enquanto um folião resistir aos detratores da alegria popular o carnaval vai ficando eterno na memória das multidões que muitas vezes só têm esse movimento social, para se deixar transbordar as emoções, pelo menos uma vez por ano.


Genival Torres Dantas

Poeta e Escritor

genivaldantas.com.br

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