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Foto do escritorGenival Dantas

Descaso, Negligência, indiferença e uma cidade ilhada (12/02/2020)



A similitude desse texto, o que fiz e coloquei na internet em 29/01, passado, está apenas no seu tema, conquanto eu tratasse dos prejuízos decorrentes na região Sudeste agora vou me referir basicamente ao Estado de São Paulo, primordialmente a Capital e o motivo gerador dessas tragédias anunciadas pelo índice pluviométrico ocorrido nos últimos dias. Na minha análise as informações que surgem nas explicações das autoridades competentes e envolvidas no assunto servem apenas para ratificar a ideia que temos sobre uma questão tão relevante para os habitantes da cidade de São Paulo, seu entorno e tão relevada por quem devia cuidar com mais atenção da sua segurança ambiental.


Tudo começa na noite/madrugada de domingo para segunda feira, 09/02, em um avião que vinha do Nordeste, eu estava a bordo, a aeronave sobrevoou a cidade de São Paulo por mais de 30 minutos esperando autorização da torre de comando para que aterrissássemos, o movimento naquele horário noturno era muito grande e já chovia, era 20h30m. Depois da escala, seguimos para Ribeirão Preto, o horário de decolagem estava previsto para 23h30min, entretanto como havia enorme congestionamento de aeronaves aliado ao mau tempo pela água que caia e novo atraso foi suscitado, chegamos ao destino cansado e preocupado com as consequências que poderia vir da chuva que persistia.


Segunda-feira, 10/02, tinha compromissos e como tenho escritório no meu apartamento, comecei a fazer meus textos logo cedo, ao mesmo tempo, acompanhava pela televisão os resultados da chuva insistente e contínua, o município de São Paulo estava completamente alagado, Rios Pinheiros e Tietê transbordavam e mais de 80 pontos de interdições já eram anunciados, além das marginais dos rios, claro. Comecei a rememorar uma época já um pouco distante, há 50 anos, eu era vendedor e trabalhava externamente, ainda não possuía veículo e tinha que enfrentar as dificuldades de mobilidade utilizando ônibus, depois o próprio metrô já ajudava, mesmo tendo apenas um único ramal: Santana/Jabaquara.


A realidade paulistana se apresentava à minha frente na tela da televisão, a situação era bem pior do que eu pudera imaginar pessoas ilhadas por entre carros, ruas e água suja que não conseguia seguir seu percurso nas galerias pluviais, muita gente que não seguia ao destino desejado, carros, caminhões e ônibus parados e seus ocupantes indefesos e inertes como quem esperando até mesmo a morte chegar nesses momentos, nada de bom nos vem à mente, naquela situação de perplexidade não podia ser diferente.


Imaginar que o município e o Estado de São Paulo deixaram de aplicar mais de R$ 1 bi na recuperação dos dois Rios, principalmente no Rio Tietê que apresenta falência no seu uso, o trecho que banha a Capital paulistana, simplesmente, se fora um corpo humano, com toda certeza, estaria sofrendo de insuficiência respiratória, pelo seu alto grau de poluição a quantidade de oxigênio ali encontrado é insuficiente para manter vivo qualquer animal que dele se utilize.


O desassoreamento é uma realidade que não se pode fugir dela. O volume de terra e esgotos urbanos que é trazido em todo caminho das águas do Rio Tietê é enorme, juntas a esse fator o fato que muito lixo é jogado ao Rio na área urbana de São Paulo, portanto as consequências não podiam ser outras.


As autoridades paulistanas precisam agir com mais responsabilidade, prestigiando as pessoas que ali vivem e empreender obras que não sejam apenas de caráter eleitoreira, mas de cunho social, objetivando não só a segurança como a tranquilidade nas idas e vindas dos transeuntes e motoristas que convivem com o medo cotidianamente, se o céu escurece, durante o dia, por alguma nuvem passageira, isso é motivo de alarde e nervosismo da população. Há verdadeiro descaso para com o que a natureza possa provocar e não adiante imputar as desgraças ocorridas ao tempo, chuva, raios e outras ações naturais.


O homem é o próprio responsável pelo seu destino, só ele, somente ele, pode evitar problemas ao seu habitat com obras de contenções e prevenções, além disso, somente as graças pedidas pelas pessoas de muita fé, caso contrário o paulistano vai viver eternamente convivendo com o desamparo e a humilhante situação de ter de ser amparado pela solidariedade humana e a piedade cristã, convenhamos, é muito triste para quem quer apenas dignidade e respeito ao seu trabalho, nada mais que isso, será muito pedir tão pouco!


Genival Torres Dantas

Poeta, escritor e Jornalista


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