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Foto do escritorGenival Dantas

Cópia de Sofrer não é preciso é consequência (09/07/2021)




O Fato Sem Politicagem 09/07/2021


Em razão desse momento de tensão que estamos atravessando, tenho feito reflexões diárias, nesses momentos de silêncio e observações mentais, sou remetido sempre aos anos de 1964, quando o Brasil passava por um triste momento, a polarização era, assim como hoje, entre a esquerda e a direita, dois ramos da política que estão sempre em debate para a conquista nos países assediados, como sempre, pela esquerda maléfica.


Naquela época, lembro-me bem, era um garoto que sobrevivia à margem da BR Rio Bahia, recém-asfaltada, portanto um novo corredor entre o Nordeste e o Sul e Sudeste com mais velocidade, servindo de abastecimento entre as regiões brasileiras. Não posso esquecer-me da sequência logo após a posse do presidente Castelo Branco e suas primeiras ações na tentativa de colocar ordem na casa, o Brasil era um verdadeiro barril de pólvora, cercado de incendiários por todos os lados.


Eu tinha a tarefa de estudar pela manhã e trabalhar no período da tarde e no noturno, aproveitava os intervalos das paradas dos paus de araras (transporte irregular usado em períodos anteriores e comumente pelos nordestinos). Tinha como meta vender café e frutas aos viajantes que por ali passavam, na maioria das vezes, de retorno ao Nordeste brasileiro, pois por determinação do governo federal, toda e qualquer pessoa desocupada em Brasília tinha que retornar a sua terra.


Essa condicionante foi feita pelas dificuldades que a Capital federal vinha enfrentando com os nordestinos, principalmente, que ali permaneceram depois da construção da cidade e o excedente de mão de obra tornou o ambiente insuportável. Foi uma atitude, de certa forma, até desumana, mas necessária para amenizar uma situação, entre tantas, e o desejo de direcionar o homem ao seu local de origem, fase de muitas lágrimas e desesperanças para aquela nação de desorientados.


Normalmente o governo dava a passagem e um valor como referência para manutenção de cada passageiro, em várias ocasiões deixava de cobrar o valor total consumido como paliativo daqueles sofredores, no fundo eram irmãos em trânsito tentando buscar uma referência, muitas vezes com esposas e filhos; não tinha como não ficar sensibilizado com cenas expostas e sofridas, não era muito, entretanto era o que eu tinha condições de fazer, não me arrependo do que fiz.


Como eu era um garoto tinha apenas uma noção muito vaga da real situação, muito depois é que pude assimilar a verdadeira tragédia a qual estávamos entrando, caso a esquerda tivesse ficado no Poder, tudo ficaria mais penoso e difícil para todos nós. Maior visão eu tive quando adentrei no mundo do 3º grau com a abrangência do conhecimento universitário e o verdadeiro desafio para o retorno da Democracia plena, havia sempre o olhar transversal para o modelo militar.


Hoje, depois de mais de meio século, após ter contado, em livros, jornais e revistas toda uma saga de um nordestino que de certa forma soube suplantar as desditas da sobrevivência, tendo nascido pobre, indo à busca de uma oportunidade entre tantos que objetivavam a mesma oportunidade e o mais difícil, em terras alheias. Não adianta achar que o Brasil não é preconceituoso, só quem é nordestino; negro ou de etnia diferente pode responder essa pergunta, assim como eu.


Colocando a bola no chão e falando de 2021, ano de tragédias mil, mormente para os brasileiros nossos contemporâneos, tivemos dois desfavorecimento real, o primeiro foi à pandemia sanitária do Coronavírus, resultando o número assustador de, até agora, mais de 530 mil mortos e sequelados, aliado a essa tragédia fomos premiados por um presidente sem a menor noção do que seja humanidade, indiferente ao que possa ocorrer com a população brasileira.


Confesso que essa tragédia dupla o brasileiro não é merecedor, tanto é que há uma gritaria geral, da direita e principalmente da esquerda, em busca de um impedimento legal do presidente e apuração das responsabilidades pelo descaso, indiferença e até relaxo. Dessa forma ficou muito difícil conviver com a realidade brasileira: um Executivo alheio aos nossos problemas, o Legislativo aliado do Executivo, verdadeira coabitação e o Judiciário permissivo aos descalabros..


Genival Dantas

Poeta, Escritor e Jornalista







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