Esse texto foi escrito bem antes da consumação do impeachment da Presidente Dilma Rousseff, ocorrido em 31 de agosto de 2016, com o Brasil mergulhado numa crise moral, ética e a caminho do surgimento de uma das mais tristes histórias que o País já viveu em sua República, cujas consequências estamos vivendo nelas até hoje. Rememore alguns fatos da época.
Quantas vezes somos pegos sozinhos, mesmo em companhia de várias pessoas, em ambientes completamente festivos, e nosso espírito é de verdadeiro retiro, isolado entre as luzes que traduzem o recinto alegre propício aos momentos de confraternizações, por entre os sons dos burburinhos, efeito das prosas, muitas vezes desencontradas, pessoas jogando conversas fora, apenas se fazendo presente entre muitos ausentes de alma.
Somos todos compostos por esses detalhes que fazem parte das nossas vidas, independentemente de classe social, poder econômico, sexo, religião, até mesmo a faixa etária fica indiferente nessa hora, somos acometidos da solidão coletiva, aquela que nos impõe momentos de análise mais profunda e de efeito de correções dos erros cometidos, das falhas involuntárias até, ou não, das palavras que pronunciamos e que de tamanha profusão ofendeu muitos, até mesmo do nosso silêncio quando o momento exigia uma resposta e um posicionamento de nossa parte.
É pensando nessas tantas vezes que nos deparamos com o inconformismo da alma que somos remetidos a pensarmos sobre o que vem acontecendo com o mundo em construção, administrado por uma nova geração que de tanta pressa têm se perdido nos labirintos que o ritmo dos afazeres exigem e de forma cada vez mais célere. Nessa corrida necessária para não ser atropelado pela multidão que vem em forma de avalanche, e ser pisoteado pelos mais espertos e velozes, os erros passaram a ser fatais, pois, não há mais tempo de consertos ou remendos, para sobreviver com um projeto de vida positivo somos todos levados pelas estradas sem variantes nem contornos.
Os mais experientes também padecem da mesma doença da pressa e vão de forma desconexa e dissonante, interpretando seu papel nesse grande teatro que é a vida. Para nosso desconforto e decepção os epílogos nem sempre são como estava previsto no script, mesmo porque, nas caminhadas há sempre descaminhos, trechos em declives de tão acentuados são propícios aos deslizes, curvas próximas aos 45° de elevados índices de acidentes, trechos com tantos buracos que parecem estradas que levam nada a lugar nenhuma.
Dentro desse quadro de negritude plena o comando da vida fica também em mãos nervosas e sequiosas, não podia ser diferente, somos todos iguais nessa noite sem lua e sem vento a levar o barco à terra segura. Estamos todos procurando um norte que nos comporte e que se adeque as nossas necessidades básicas, já não suportamos o clamor dos desvalidos e desorientados, esses, muito mais que nós, que temos um pouco de discernimento e sabemos caminhar, mesmo tortuosamente, pelo muito que aprendemos e sabemos, ou pouco pelo que tínhamos de aprender, mesmo assim não somos capazes de andar ereto como ereto devia ser o homem depois do sapiens.
O pior de não ter para onde ir é não ter com quem ir, estamos nessa fase de incertezas e desencantos, um país com a nossa dimensão continental, hoje sofre da solidão dos líderes, se existem estão escondidos por entre os muros de arrimo para não ter que assumir uma missão das mais ingratas. Pior que construir uma máquina e coloca-la nos trilhos, é conserta-la deixando-a em condições de uso, refazer os trilhos, ter maquinistas preparados para transportar passageiros incrédulos no sucesso da viagem.
Esse é exatamente nosso país, com uma máquina sucateada no pátio de manutenção, um maquinista sofrendo de síndrome do desacerto, sem nenhuma condição de seguir viagem, na solidão dos trilhos desalinhados, com a alma esvaziada sem nenhuma companhia que lhe sirva de alento, o que já lhe foi tão farto, hoje é uma estação vazia, como se fosse meia luz a esconder a deterioração promovida pelo tempo de exacerbação de uma opulência fictícia, da luz reluzente de um castelo de areia, de uma conta no vermelho sem provisão e previsão de pagamento.
A nação hoje é um campo de almas isoladas mergulhadas na solidão da esperança, vendo a sofreguidão daquela que vê no isolamento do cargo, a indiferença dos antigos aliados que sem escrúpulos jogam-lhe pedras, como se eles não fossem corresponsáveis pelo estado de penúria que estamos sendo submetidos, no compasso da espera tentando uma luz que possa surgir de algum lugar sinalizando o caminho a ser seguido e menos penoso.
O golpe de misericórdia foi dado, já não somos bons pagadores, nosso conceito foi desmilinguido, jogado num patamar inferior, ao mesmo nível daqueles que não souberam, como nós, honrar os compromissos assumidos, as promessas foram esquecidas e o respeito pelo outro ignorado, portanto, o ser humano sendo banalizado, tudo isso em nome da soberba e do nariz empinado; pelo projeto de permanência de poder aventureiro, sem nenhum conteúdo e sem critérios.
Não há como renascer das cinzas, como um fênix, tudo foi consumido, por isso, consumado, sejamos realistas, mas, não podemos nos entregar, esperar que um filho da pátria, e há tantos que podem e devem ser voluntários a essa missão tão nobre, dentre tantos que não fogem a luta, venha o nos tirar do marasmo e do desconforto moral e ético que nos jogaram depois de 12 anos, acordado que fomos, de um sonho sonhado no país das maravilhas, que pena, tudo não passou de um conto de fadas, quem sabe até envolvidos no conto do vigário, o tempo nos dirá!
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