O Fato Sem Politicagem 16/10/2020
Era julho de 2005, portanto segundo semestre em andamento, o ambiente nada mais cinematográfico, Aeroporto de Congonhas (SP), José Adalberto Vieira da Silva, assessor parlamentar do então deputado estadual José Guimarães (PT/CE), esse último é irmão do, na época, presidente nacional do PT, José Genoíno (PT/SP).
Como nas histórias fantasiosas em que o cinema americano sabe produzir, José Adalberto é surpreendido pela Polícia Federal com U$100,5 mil no espaço íntimo da sua cueca, e sendo conduzido e acondicionado em uma sacola o montante de R$ 209 mil.
Como não havia comprovação de registro do dinheiro descoberto os valores passaram a ser considerada ilegal, a situação toma rumo em direção ao sistema policial e judicial, nos tramites normais como ocorre em qualquer situação semelhante.
Era época do mensalão, os membros do PT eram todos revestidos de empáfia como se fora o suprassumo da honestidade política. No dia seguinte o José Genoíno renuncia ao cargo de presidente do PT, o mundo político passou a ser um enrosco só.
O partido do presidente da República (PT) em exercício, Luiz Inácio Lula da Silva, hoje condenado, portanto réu em 2a instância, já não era tida como a fina flor da honestidade plena, muita controvérsia a esse respeito, mesmo assim o deputado foi retirado do processo.
Entretanto, ele ficou com a alcunha de o deputado “dólar na cueca”, mesmo tendo ele ocupado cargos de lideranças dentro da Câmara Federal e sido reeleito ficou difícil de ser retirada essa mácula do seu currículo, de certa forma injusta. O próprio PT hoje é uma nau sem rumo e sem controle em direção ao abismo, em âmbito nacional, o rescaldo será feito após as eleições municipais.
Estamos no ano de 2020, da graça de Deus, tudo bem, tudo muito bom, tirando a ironia das pandemias sincronizadas dentro do governo Bolsonaro, incrédulo do caos atual, da crise sanitária, econômica, administrativa e política, o país vai de mal a pior, não tenha dúvida disso.
Como numa procissão de ateus, muitos pedidos e poucas respostas, a situação fica constrangedora, depois de uma semana cheia de intempéries dentro do Poder Judiciário, ministros se acusando mutuamente, com o vernáculo sendo usado indistintamente para ofensas pessoais, quando a autofagia passou a ser um substantivo comum de dois, sentimento manifesto dos impropérios indelicados e inoportunos.
Via de regras, essas reações só são manifestadas dentro dos ambientes menos classificados, nas pontas de ruas de vilas longínquas cujos frequentadores só se apresentam com esse tipo de linguajar depois de muito consumo de bebidas alcoólicas, com total conotação de desprezo pelo ambiente, já de retardatários enfadados de tantos chupitos.
Essa era a sensação que se tinha das imagens apresentadas do final da sessão plenária do STF depois dos nove votos favoráveis ao presidente daquela casa Luiz Fux, contra um único voto em favor do ministro Marco Aurélio no caso André do Rap, assunto longamente tratado nesse espaço em textos anteriores.
Para não terminarmos a semana apenas com um caso isolado de disrupção dentro da República, surge como uma bomba lançada do alto dos três Poderes, o senador Chico Rodrigues (DEM/RR), durante investigação de desvio de recursos destinados ao combate à Coronavírus, foi flagrado pela Polícia Federal, dentro da sua própria casa, Boa Vista (RR), com dinheiro dentro da cueca.
Quando o assunto veio à tona imediatamente o Palácio do Planalto foi acionado e o referendado senador que até então era um dos três vice-líderes do Governo Bolsonaro, no senado federal, foi desligado do cargo, numa tentativa do governo se livrar desse imbróglio surrealista.
Nem toda confusão é tão grande que não possa agiganta-la, imbuído de espírito apaziguador, o ministro do STF (olhe o STF novamente em ação), provocado pela Polícia Federal, suspende por 90 dias o senador, escondedor de dinheiro, porém nega a prisão solicitada pela própria Federal.
O caso toma rumo em direção ao Senado Federal que terá de resolver essa pendenga causada por um dos seus membros e resolver se concorda com a decisão do ministro autor da suspensão. O mais estarrecedor é que se o senador traquina for realmente suspenso o seu substituto imediato, suplente, seu filho Pedro Rodrigues.
Toda essa balburdia política, policial e jurídica, decorre por conta de um congressista que ausente das suas funções que lhes foram conferidas pelo povo de Roraima, coloca em posição de constrangimento, de uma só vez: o Legislativo, Senado Federal, a casa que ele representa legalmente, o Judiciário, expressão maior considerada o guardião das leis, e o próprio Executivo, por ser um dos seus vice-líderes na sua casa de atividades.
Genival Dantas
Poeta, Escritor e Jornalista
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