A nossa ancestralidade não nos permite negar o quão racistas somos(22/11/2020)
- Genival Dantas
- 22 de nov. de 2020
- 3 min de leitura

O Fato Sem Politicagem 22/11/2020
Toda vez que me deparo com situações iguais as que estávamos vivendo nos últimos tempos, principalmente quando o trágico tema é voltado para preconceitos, racismo e ódio, sinto uma sensação de vazio e desgosto por tudo que passamos e nunca aprendemos com as nossas demandas atrozes imprimidas pela história que nos trouxe até aqui.
Apenas para elucidar essa indignação que me acompanha por todo o sempre, normalmente sou levado a uma cena história e que muito representa esse sentimento. Quando John F. Kennedy aqui esteve, em visita e palestra a uma Universidade brasileira, a plateia era composta por professores e alunos, além de jornalistas e autoridades para prestigiarem aquele momento. Na hora das perguntas da plateia, uma pergunta, entre outras, lhe foi formulada: por que os EUA sendo um país considerado o mais democrata de todos os tempos é racista;
A resposta veio em forma de pergunta também, por que o Brasil é um país não considerado racista, correndo os olhos por todo o ambiente, não vejo nenhum negro na plateia ou mesmo na mesa dos trabalhos? Depois de alguns segundos de silêncio ele foi ovacionado, todos de pé como quem pedindo para que fosse retirada aquela questão.
Voltando aos nossos fatos estapafúrdios, cópia de seguidas ocorrências nos EUA nos últimos tempos, quando negros são massacrados em público, pela polícia das suas cidades, como prova inconteste da violência contra os negros americanos, aqui como lá, estamos repetindo atos de selvagerias contra nosso próprio povo, nós que nos julgamos em sermos a melhor raça de todos os povos sobre a terra.
A nossa miscigenação nos proíbe de tal comportamento, mais ainda, a nossa ancestralidade não nos abona nessas atitudes indecorosas e vulgares. O que nos deixa mais espantados é constatar a falta de equilíbrio e até brasilidade de um governo, ausente de qualquer resquício de apreço ao seu povo, no meio de tanta dor e sofrimento dos nossos irmãos negros, ele vem em público e anunciando ao mundo que aqui, exatamente aqui, não há racismo.
O que nos deixa mais estarrecidos é verificar que até mesmo o vice-presidente da República, general de primeira linhagem, Hamilton Mourão, adere ao negativismo do presidente e com ele comunga da ideia de que não há racismo no Brasil, tudo bem que presidente Bolsonaro continue fiel aos seus princípios fundamentados no despropósito e despreparo espiritual, assim como alguns membros do seu governo, que primam pela ambivalência do despautério, caminhos tortuosos da estolidez.
A morte inconsequente de um homem dentro de um mercado, na cidade de Porto Alegre – RS, mesmo que ele tenha passagem policial, assim dizem, e que seja negro qualquer que seja o motivo que tenha motivado a sua agressão, pelos seguranças que ali prestavam serviço, nunca deveria ser motivo de tanta violência e ódio ao ponto culminar com a morte da vítima.
O cidadão João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, pai de família, foi assassinado brutalmente, eu seria leviano se afirmasse apenas que foi um crime de racismo, mas até que se prove o contrário esse absurdo tem todos os ingredientes de uma porção elevada de ódio e ressentimentos entre os homens, independente quem seja negro ou branco. Até quando vamos suportar esse tipo de situação.
É preciso que passemos a discutir a situação humana, o caráter e a dignidade do próprio homem, a cor da pele, a religião o credo religioso, a preferência sexual ou mesmo posição política, são assuntos secundários. Quando eu leio um livro, vejo uma peça de teatro ou mesmo assisto a um filme não quero saber se são produtos de um homem, uma mulher ou de qualquer outro ser, indiferente das suas qualidades físicas, eu me sirvo de um produto acabado.
Assim, procuro me comportar em qualquer situação em que se encontro o trabalho realizado por alguém, um porteiro, jardineiro, professor, aluno, qualquer outra atividade conhecida de menor expressão, mesmo os que são de ordem superior, como se costuma falar na linguagem seletiva dos menos avisados, nessa classe podemos referendar os profissionais liberais, tais quais, médicos, engenheiros, advogados, juízes, médicos, religiosos e políticos.
Nós brasileiros nos apequenamos cada vez mais, temos que valorizar o que é nosso, nosso povo, nossa gente, nossa cultura, até mesmo nossa dificuldade para sobreviver tem pelo menos ser solidários com os que têm mais carências que nós. Se nos EUA, ou qualquer outro país, seus problemas internos extrapolam a racionalidade. Vamos aqui, no Brasil, superar essa crise, mais que centenária, A barafunda antecede a nossa República, portanto é secular. Vamos ter que construir soluções caseiras, regionais e até de âmbito nacional para ultrapassarmos esse tipo de barreiras que apenas nos fere e não nos leva a lugar nenhum.
Genival Dantas
Poeta, Escritor e Jornalista

Comments