O Fato Sem Politicagem 15/02/2021
É bem provável que a maioria das pessoas que hoje procuram se justificar pelo revés sofrido, desde março de 2020 até esse momento, coloque o insucesso obtido na conta de terceiros, ou até mesmo nas informações que circularam durante esse período e, principalmente à imprensa que procura fazer seu papel na sociedade levando ao seu público os fatos que ocorrem no dia a dia.
Esquece essa parcela de malsucedidos que a imprensa, muito embora tivesse o dever de ficar neutra, haverá sempre parcela de profissionais disposta a não renunciar ao seu direito de ter seu pensamento voltado para seus princípios ideológicos, o que é um fato honroso para a classe que prega a verdade acima de qualquer situação adversa, nessa janela de contemplação estão os da esquerda e os da direita.
Muitos com seus víeis extremistas, esses últimos agem mais pelo coração quando devia usar a razão para interpretar o desenvolvimento da realidade, numa narrativa isento de qualquer desvio de lisura e com ponderação sem a acidez das palavras quando elas são transformadas em defesa ou acusação de algo muito próximo do ativismo.
Longe dessa panaceia e voltando as dificuldades encontradas em muitos ou quase todos os setores da economia, exceção feita aos setores que conseguiram conjuminar mercado em depressão com situação voltada ao apoio das demais classes impedidas de operarem de forma presencial e tentando sobreviver remotamente com todas as suas inconsistências.
Nessa ambígua realidade e a severidade que tomou conta de todos nós tivemos o Home Office, que, definitivamente, é uma moda que seria temporal, mas toma o rumo de uma prática de perpetuação nos espaços corporativos, principalmente, nos setores onde a presença do material humano seja necessária mais como aplicação em apoio, logística, assessoramento e outros melhoramentos na relação empresa empregados e empresa cliente, nesse tripé de polivalência empresarial.
Não me surpreende os números que surgem com índices negativos para o setor imobiliário, especificamente os imóveis reservados para alugueis e com metragens maiores, quando as empresas estão buscando reduzir custos e concentração de funcionários no mesmo ambiente, nessa ambiguidade de conceito novo e prática nada aplicada, até então nas normas comerciais e administrativas.
O mercado internacional, nesse contexto o nacional, temos muitos imóveis sendo devolvidos por empresas de porte, grande e médio, na tentativa real de equacionar seus custos operacionais, moldando suas necessidades aos espaços melhores dimensionados física e financeiramente. Há conhecimento que em São Paulo, no ano passado, 20% dos imóveis para a finalidade de escritórios estão fechados e sem pretendentes.
Mais que isso, muitos dos imóveis novos, em torno de 15%, encontram-se sem inquilino, a situação não é muito diferente para o Rio de Janeiro, podendo ser extrapolado para muitas de nossas Capitais, todas atingidas pela pandemia do Coronavírus, e sem nenhuma perspectiva de melhores dias, apenas conjecturas e informações desencontradas, assim sendo essa nova realidade nos pede um pouco mais de zelo pelas nossas empresas e nossos empregos.
Outro setor que requer muito cuidado por parte do Governo Federal e demais autoridades do Executivo, primordialmente, é o setor automobilístico, já me pronunciei a esse respeito em texto passado. Nos últimos dois sessenta dias teve uma situação preocupante, quatro montadoras de veículos foram colocadas à venda. Em Iracemápolis (SP) a Mercedes-Benz, local que fabricava seus carros de luxo, com uma planta moderna e pista de testes, depois de fechada, procura comprador para repassar aquele projeto, de preferencia no mesmo segmento de mercado.
A situação é calamitosa em três endereços diferentes, todos referentes à Ford. No Ceará, cidade de Horizonte, a situação é de consternação, uma fábrica que inicialmente desenvolveu o projeto de um Jeep, Troller, produto genuinamente brasileiro e nordestino. O projeto foi vendido para a Ford, 2007, com o fechamento de unidades produtoras da multinacional americana esse protótipo de robustez pode se exaurir no tempo e se acabar caso não seja encontrado nenhum grupo disposto a manter aquela fabrica em operação, no momento há uma força tarefa em busca de uma solução viável.
Temos o caso da Ford em Camaçari em situação de desespero para os funcionários que lutam pelos seus direitos de continuarem operando, para tanto, o governo baiano busca no Continente Asiático algum grupo disposto a fazer investimentos naquele Estado e especificamente no projeto desativado da Ford. Outra unidade produtora fica localizada em Taubaté-SP, encontrando-se na mesma situação que as já mencionadas.
Não podemos esquecer a planta do ABC paulista, que foi vendida para uma construtora e um grupo de investidores para construção de um centro logístico. Esse desfecho nos mostra a dificuldade que atravessa a indústria automobilística em nosso país, temos hoje um parque de produção com capacidade para de até 4,7 milhões de veículos/ anos, atingimos um pico máximo de, 3,7 milhões em 2013, e com previsão e projeção de, 2,5 milhões de veículos para este ano de 2021.
Esses números mostram que temos capacidade ociosa e com o mercado em baixa, há estudos que mostram o mercado consumidor em fase de encolhimento, por vários fatores, nesse caso é preciso uma política diferenciada para o setor, sem, necessariamente, beneficiar empresas em troca, muitas vezes de nada, sem, nem mesmo uma contrapartida que venha justificar o esforço oferecido para manutenção dos empregos atuais e arrecadação de impostos. É o mínimo que pedimos.
Genival Dantas
Poeta, Escritor e Jornalista
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